A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS
Considerando
que os eixos de alfabetização e letramento ganham espaço na discussão sobre a
ampliação do Ensino Fundamental, interessa-nos, nesse momento, recuperar a
seguinte questão: é possível alfabetizar letrando as crianças em um contexto
lúdico, respeitando as necessidades e interesses da infância? Em nossa opinião,
a resposta é, sem dúvida, sim. Como isso poderia ocorrer? Concordando com Silva
(2005), acreditamos que esse processo dar-se-ia por meio da articulação da
aprendizagem da leitura e da escrita a momentos de brincadeiras e de exploração
de outras linguagens. Desse modo, a ludicidade seria contemplada em todos os
momentos do trabalho pedagógico, de modo a respeitar e considerar as
necessidades e interesses próprios da infância.
Há
vários desafios presentes no contexto do processo de ampliação do Ensino
Fundamental para nove anos e a inclusão nele das crianças de seis anos.
Entretanto, acreditamos que a inclusão da criança de seis anos no Ensino
Fundamental pode suscitar mudanças significativas nas formas de pensar e
conceber a criança, o ensino e a escola. Basta ver os debates atuais envolvendo
pesquisadores, especialistas, professores, entre outros profissionais, que se
têm comprometido com a ressignificação das práticas desenvolvidas nas instituições
de ensino, tanto de Educação Infantil quanto de Ensino Fundamental. Reafirmar o
papel da escola nesse desafio é primordial, visto que essa instituição precisa
ser um espaço de formação integral de sujeitos.
Outra discussão relacionada a essa e
que também tem gerado vários debates refere-se à transição das crianças da
Educação Infantil para o Ensino Fundamental, materializada, no contexto atual,
quando as crianças se encontram entre 5 e 6 anos de idade.
A TRANSIÇÃO DA CRIANÇA
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Em um ano escolar, as crianças podem
brincar livremente e expressar-se em diferentes linguagens, vivenciando a sua
infância de maneira mais plena. No ano seguinte, essas mesmas crianças só podem
brincar, salvo poucas exceções, na hora do recreio, e a exploração de múltiplas
linguagens, em sala de aula, diminui consideravelmente. O mobiliário e a
organização das crianças na classe também mudam: mesas coletivas com cadeiras
individuais (adequadas ao tamanho das crianças), nas quais os meninos e as
meninas são organizados em pequenos grupos, são substituídas por carteiras
individuais (tamanho grande), organizadas, geralmente, em fileiras, voltadas
para o (a) professor(a) e o quadro-negro. Durante a aula, a criança deve ficar
sentada, em sua carteira, em silêncio, realizando, individualmente, suas
atividades.
Entendemos que não há por que opor Educação Infantil e Ensino Fundamental, como
se constituíssem dois mundos à parte, um no qual, pelo menos em tese, a criança
seria tratada como criança, e outro no qual, também em tese, a criança seria
tratada apenas como aluno, e não mais como criança. Quando ingressa no Ensino
Fundamental, a criança continua sendo criança e tendo as mesmas necessidades
próprias da infância, que precisam ser consideradas, sem desconsiderar os
objetivos e as características de cada etapa da Educação Básica.
Comentários
Postar um comentário